Com a chegada dos resultados eleitorais, vem sempre a expectativa em volta da abstenção, se esta aumenta ou diminui. Este ano esta taxa aumentou novamente a nível nacional, ainda que ligeiramente, para mais um máximo histórico. É absolutamente lamentável que os habitantes desta nação se estejam a borrifar para os problemas deste país, porque sim, é o que essa abstenção significa e em particular nestas legislativas.
Sim, nós estamos mesmo mal, esta crise que atravessamos não tem meio de ver um fim. Mas será a abstenção a solução para ela? Será que se ninguém votar e instaurarmos uma anarquia somos capazes de dar a volta a isto? Um redondo não. É natural que as pessoas estejam descontentes com a política em geral, mas daí a descredibilizar a democracia vai um passo largo. Existem maneiras de se protestar, como por exemplo o voto em branco (que também teve uma subida significativa nestas eleições); ou então votar nos partidos mais pequenos - de entre os 17 partidos que se submeteram a sufrágio não houve nenhum que se enquadrasse no pensamento das pessoas? E depois há sempre aquela velha máxima aplicada por muita gente de que os políticos são todos iguais: sim, existem alguns que podem não merecer crédito, seja por já terem feito asneira ou não terem o carisma exigido, mas existem certamente pessoas com vontade de mudar alguma coisa e que precisam de um voto de confiança e em quem deveríamos depositar. Porque se não votarmos, outro fará por nós a seguir, e poderá ser tudo menos do agrado do próprio.
Também não creio que a solução seja aplicar a mesma fórmula do Brasil, com votação obrigatória e penalizações para os abstencionistas. Cada um deve ser responsável por si, e deve ter consciência que a sua opinião conta para o futuro do país. Outra solução poderá ser o voto electrónico, enfrentar deste modo a inércia absurda em votar da nossa população, apesar de ainda haverem bastantes reticências acerca do seu sucesso. Há acima de tudo que dar mostras de que este país é desenvolvido, e votar em massa.
A par desta abstenção temos um problema grave: o crescente desinteresse por parte dos jovens pela política. Curiosamente, e contrário ao que poderia ser previsível, os jovens manifestam o seu descontentamento afastando-se da política e de qualquer forma pratica de politica. Esta crise deveria fazer o inverso, motivar os jovens para a política e a partilha de ideias para um Portugal melhor. Porque existe muito jovem neste país que sente que estar acima da política é estar acima dos problemas e achar que a sua condição não se coaduna com essa prática. Nada mais errado.
Agora punha em comparação este fenómeno da abstenção a uma situação. Imaginemos que vamos entrar a bordo de um barco. Nessa viagem temos a possibilidade de escolher o condutor do barco de entre uma dezena de indivíduos. Sabemos que alguns deles têm má fama, de que já levaram barcos ao fundo, mas também temos outros que ainda não sabemos nada acerca deles e que até pode ser que sejam responsáveis. Escolhemos um desses possíveis responsáveis ou não escolhemos nenhum e conduzimos nós o barco, sabendo que não temos experiência e certamente levamos o barco ao fundo?